















Uma profissão que
exige amor e dedicação
Por Lia Sequeira e Mariana Paula
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192) faz parte da Política Nacional de Urgências e Emergências que, desde 2003, ajuda a organizar o atendimento na rede pública, prestando socorro à população em casos de emergência. Tem como objetivo reduzir o número de óbitos, o tempo de internação e as sequelas decorrentes da falta de socorro precoce.
Em Fortaleza existem locais que têm maior ocorrências de atendimentos do SAMU (Confira o mapa). O serviço funciona 24 horas por dia com equipes de profissionais de saúde que atendem a urgências. As equipes de profissionais de saúde contam com médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e socorristas que atendem às urgências de natureza traumática, clínica, pediátrica, cirúrgica, gineco-obstétrica e de saúde mental da população, e com profissionais que não são da área da saúde, como os teleatendentes e operadores de frota, que agilizam esse atendimento.
O enfermeiro Ecleidson Fragoso é socorrista do SAMU desde a sua criação em 2003, mas há 16 anos faz atendimentos pré-hospitalar e de rua. Escolheu essa profissão pela vontade que tinha de ajudar ao próximo em momentos de dor e angústia.
Afirma que, para trabalhar no SAMU, é necessário ter amor pelo que faz, pois tem que passar a maior parte do dia no trabalho já que sua profissão exige que ele tenha hora para chegar, mas nunca tenha hora para sair, pois a prioridade é a vida humana. Muitas vezes, os socorristas têm que deixar sua vida pessoal para atender à população que precisa de cuidados emergenciais.
O enfermeiro nos fala que o mais difícil no atendimento é a compreensão da população “desde afastar os veículos para passagem da ambulância no trânsito minimizando o tempo de resposta da chegada ao local, pois trabalhamos com um protocolo de prioridades para salvar uma vida que segue prioridades por órgãos vitais, a população leiga enfatiza a presença de sangue, nos parâmetros de vida ou avaliação primária que visa observar nível de gravidade da vítima e resolver de acordo com as necessidades do corpo humano”.
Ele nos contou diversas histórias como a perca de pessoas da mesma família de forma diferente no mesmo dia. Houve uma colisão entre uma moto e um caminhão que teve duas vítimas, uma das vitimas teve morte imediata e a outra foi removida pelo SAMU. "Ao chegarmos ao hospital após entregarmos a vítima, recebemos contato da central para retornarmos ao mesmo local, pois uma nova vítima grave precisava da UTI do SAMU, a vítima era proveniente de arma de fogo e também foi a óbito, era irmão do que havia falecido, teria entrado em uma discussão devido ofensas que outra pessoa fez ao seu irmão. Logo depois fomos acionados para um infarto e quando chegamos ao local descobrimos que era o pai das duas vítimas mortas".
Uma história muito engraçada foi de um trote que eles receberam em um sábado pela manhã. O SAMU foi acionado para um atendimento de índice máximo de gravidade, um tiro no peito, ferimento por arma de fogo. A ambulância se deslocou em alta velocidade devido ao trânsito ainda calmo. Ao chegarem ao local só encontraram um rapaz embriagado que dizia: “Eita! Hoje vocês foram a jato chegaram em minutos!”. Os socorristas perguntaram se o paciente já havia sido removido e ele respondeu que era ele mesmo, que havia levado um tiro no peito do pé a uma semana que precisava trocar o curativo.
Ecleidson destaca que “é necessário ter uma família sempre do lado, dando apoio para conseguir suportar tantas situações difíceis que vivemos”. Como no momento mais marcante que viveu como socorrista. Ele prestou socorro a uma criança de três anos que tinha sido atropelada e já havia sido considerada morta pela população. Estava com os membros quebrados e o abdômen aberto com as vísceras de fora, mas ao chegar perto da criança para confirmar o óbito ela lhe pediu ajuda e disse que ele era um anjo lindo. A criança chegou a tempo de ser operada, mas teve uma infecção generalizada e morreu após um mês de internamento.
Ele nos fala que é necessário equilíbrio na vida para conseguir controlar as emoções na hora do socorro e que a concentração também é fundamental para fazer com que o lado emocional não atrapalhe na hora do atendimento. “A vida de socorrista é árdua, mas se o trabalho é feito com amor e dedicação as dificuldades diminuem e a vontade de ajudar ao próximo só cresce”, afirma Ecleidson.
Habilidades do bom socorrista
Para ser um socorrista, o profissional da saúde deve ter habilidades técnicas como o conhecimento das ações do atendimento pré-hospitalar. Estar habilitado para fluxos e rotinas operacionais do serviço como a relação com os serviços de saúde, a comunicação através do sistema de rádio, o uso de códigos, a adoção de protocolos de serviço. O socorrista deve estar habilitado para atender e avaliar o risco dos pacientes para priorizar o atendimento dos casos mais graves. Conhecer os protocolos de regulação de urgência e exercer as técnicas de regulação médica.
O condicionamento físico também é importante, pois alguns atendimentos exigem isso do profissional. A coragem deve estar sempre presente, pois o serviço tem um alto grau de perigo para as equipes no trânsito e nos lugares que são considerados de risco.
Troca de experiências com outros países
O SAMU foi até o Canadá para trocar experiências de trabalho, ensino e pesquisa com o serviço de atendimento pré-hospitalar que lá existe. Uma das atividades dos socorristas enviados para o Canadá era explicar como funciona o serviço de atendimento aqui no Brasil, pois lá não existem médicos nas ambulâncias, pois o sistema de formação canadense é diferente existindo uma profissão específica com um curso que tem duração de quatro anos para quem deseja trabalhar com o atendimento pré-hospitalar. A troca de experiências levou cidades como Montreal e Quebec Ville a quererem implantar o sistema com médicos nas ambulâncias.

Enfermeiro Ecleidson Fragoso, que trabalha no SAMU desde a sua criação, dando aula de primeiros socorros em treinamento do Samu.

Segundo o site do SAMU eles recebem mais de duas mil chamadas diárias, mas dessas, apenas 200 pacientes são removidos do local de acidente, pois ele tem como objetivo atender os chamados graves.