Autoriza a árbitra
e começa a partida!
Uma das poucas mulheres a apitar partidas de futebol no Estado, a cearense Eveliny Almeida é referência para todos os profissionais da categoria, sejam homens ou mulheres.
Por Ravena Sombra e Bruna Salmito
Há 15 anos na função, o interesse de Eveliny na área surgiu por influência do irmão. Começou a frequentar os estádios desde cedo até que, aos 15 anos, decidiu dar início ao curso preparatório de árbitros, mas nunca havia sentido a vontade de apitar uma partida. Para ser aprovada no curso, a garota de apenas 16 anos, precisou apitar uma partida de futebol. A escolhida foi um jogo da Seleção Sub-16. A partir desse dia, Eveliny decidiu exatamente o que queria: ser árbitra de futebol.









A carreira que começou “quase sem querer” alavancou e trouxe grandes conquistas. Entre as mais importantes, Eveliny destaca a oportunidade de ter se transferido para a Federação Paulista de Arbitragem, onde apitou jogos da Copa Libertadores da América de Futebol Feminino e entre grandes times do Brasil. Após dois anos em São Paulo, Eveliny retornou ao seu estado natal.
Outra grande conquista foi ter conseguido a oportunidade de ser a primeira árbitra cearense a fazer parte do quadro FIFA. Após adquirir experiência em São Paulo, ela recebeu o convite da CBF para fazer parte das avaliações físicas da FIFA no final de 2008, conseguindo a aprovação. Concluir os testes com sucesso deixou Eveliny Almeida recompensada, tendo em vista que ela teve tentativas frustradas em duas outras etapas do ano anterior.
O ingresso para arbitragem foi conseguido com muito suor. Além do treino físico diário e da constante atualização sobre as regras, ela precisou aprender a lidar com todas as formas de preconceito e discriminação, sobretudo, por ser mulher. “Logo na primeira aula do meu curso, um instrutor disse que arbitragem não era coisa de mulher. Aquilo me marcou tanto que eu criei um objetivo, que era chegar ao quadro FIFA”, afirma.
Mesmo com a experiência que teve em São Paulo e a inserção no quadro FIFA, ela conta que só teve a oportunidade de apitar no Ceará após três anos que voltou do Sudeste, em um jogo da primeira divisão entre o Ceará X Boa Viagem, no Castelão, dia 17 de janeiro de 2009, pela série “A” do Campeonato Cearense.
Para permanecer na arbitragem, ela precisa passar por avaliações físicas impostas pela CBF a cada 4 meses, que atestam que a juíza está em condições de apitar, tendo em vista que, durante uma partida, ela chega a correr 14 km.
Fora dos campos
Eveliny concilia a sua função de árbitra com a carreira de empresária, que sempre foi um dos objetivos da sua vida. Ela, junto com a irmã, Mara, administram uma loja de moda feminina, no Montese. “Sempre tive vontade de abrir meu próprio negócio. Agora estou trabalhando com moda feminina por influência do meu pai. "Ele tinha uma microempresa, então sempre convivi com isso desde pequena”, afirma.
Casada com um árbitro atuante, ela consegue conciliar loja, futebol, casamento e família. Quanto à vida paralela à arbitragem, sempre foi de muita 'ralação'. Eveliny já trabalhou como gerente, coordenadora e promotora de vendas. Formada em pedagogia já trabalhou como professora. Mas tudo isso ficou de lado para dar lugar ao Futebol e à Moda.
Ela garante que não vai para o estádio sem passar um batom ou uma sombra nos olhos. Para ela, função e profissão podem, sim, andar de mãos dadas: “não falta aquele pozinho, o batom, lápis e sombra”. Ela conta que tudo é muito discreto, afinal “não quero me destacar pela maquiagem e, sim, pelo trabalho”. Mas brinca dizendo que “é mais fácil eu esquecer o apito do que a maquiagem”.
Ao ser indagada sobre quais são os planos para o futuro, Eveliny simplesmente responde: “penso um dia em ser mãe, mas quero continuar na arbitragem e, quem sabe, mudar um pouco a visão de alguns dirigentes em relação à mulher, que a gente sabe que ainda há muito preconceito, não só cearense, mas no Brasil”. E ela ainda pensa em ministrar cursos para estimular as mulheres a irem atrás da arbitragem.
Não falta aquele pozinho, o batom, lápis ou sombra...é mais fácil eu sair de casa sem o apito do que a maquiagem
Jogo em família
“Eu, meu pai e meu irmão tivemos a oportunidade de trabalharmos os três juntos em um amistoso, uma entrega de faixas do Fortaleza, no PV (Estádio Presidente Vargas). Foi o meu irmão apitando e eu e o meu pai bandeirando, a gente foi até matéria da revista Placar, uma revista voltada pro esporte. Foi a primeira família do Brasil, porque existem irmãos, pai e filho, mas pai, filho e filha não existe, é pioneiro e foi muito bacana. Acho que foi uma das melhores recordações que eu tenho da arbitragem foi isso e eu tenho certeza que foi uma grande realização do meu pai, também".
Esse foi um fato marcante, além de ter trabalhado na FIFA, foi ter trabalhado com meu pai e meu irmão. Nada foi tão marcante quanto esse jogo, apesar de ter sido um amistoso, mas a essência dele foi muito boa. Mostrou um aspecto muito positivo pro esporte, que o esporte é família, que se existe a maior influência pra se educar um filho, pra se agregar uma família é o esporte, além da educação. Uma das melhores coisas que o meu pai fez foi ter puxado a gente pro lado do esporte”.
