
Movidos pela arte de interpretar
Por Airton Baquit e Daniela Costa
Compreender a Língua de Sinais é uma tarefa desafiadora e apaixonante. Requer, principalmente, dedicação, como é o caso de Guilherme Júlio, intérprete do Instituto Cearense de Educação de Surdos (Ices)
Seja através de programas educativos, espaços universitários ou instituições públicas, quase sempre é imprescindível a atuação do intérprete de Libras. Apesar da importância desses profissionais, eles são praticamente invisíveis nos locais de trabalho. E o que você tem a ver com isso?
O decreto 5.626 de dezembro de 2005, por exemplo, chama atenção por contemplar cursos superiores para formação de tradutores/intérprete de libras. Mas quem são os intérpretes certificados para trabalhar no ensino superior? Qual as condições de trabalho nos ambientes profissionais? Como é a formação desses intérpretes? Qual o posicionamento dos intérpretes nas instituições?
Essas são apenas algumas perguntas que giram em torno dessa profissão desafiadora denominada de intérprete de libras. A profissão está em fase de crescimento, apresentando inúmeras conquistas e desafios. Aos poucos, presenciamos a atuação de intérpretes em ambiente hospitalar, shows, peças teatrais, sistemas de comunicação e, principalmente, no âmbito acadêmico.
O cenário ainda é distribuído desigualmente. Seja através da estrutura profissional, do espaço que ocupam ou do próprio serviço ofertado, os profissionais apresentam diferenças significativas para a consolidação do intérprete. Por outro lado, os profissionais se envolvem e lutam por uma mesma causa: o reconhecimento para aqueles que se dedicam a interpretar a linguagem brasileira de sinais.
Apaixonados pela interpretação
Esse reconhecimento pode acontecer através da dedicação integral dos profissionais. Muito mais que um conhecedor de libras, o intérprete se torna envolvido pela causa. Segundo o intérprete de libras do Instituto Cearense de Educação de Surdos (Ices), Guilherme Júlio, o envolvimento com a comunidade surda é fundamental para conhecer as possibilidades de atuação. "o meu desenvolvimento com a interpretação de libras aconteceu sem dificuldades, mantendo contato direto com os surdos em instituições, como a pastoral e a associação de surdos do Ceará”, enfatiza.
O primeiro contato de Guilherme com os sinais foi através de um encontro com um surdo em uma locadora de videogames. Apesar de sua formação ser em Gestão Empresarial, foi a partir desta casualidade que ele se interessou em aprender a língua de sinais, cursando pós graduação em educação especial e interpretação de libras.
Quem pretende seguir os passos de Guilherme no mercado de trabalho, deve buscar alguns cursos básicos, profissionalizantes ou até mesmo de graduação em Letras - Libras. Este último abriu sua primeira turma em 2013 na Universidade Federal do Ceará. Porém, segundo Guilherme, é importante ir além dos cursos, pois o contato direto com a comunidade surda fixa melhor o aprendizado.
As exigências para seguir a profissão ainda pode apresentar diferenças em alguns Estados, pois o que existe atualmente é a lei 12.319, que regulamenta a profissão somente em âmbito federal. Quanto à regulamentação estadual e municipal, diversas conquistas precisam ser garantidas, mas os apaixonados pelos sinais já contam com dispositivos tecnológicos que os unem pela mesma causa: a interpretação.
Site ajuda na aprendizagem de libras
Para quem tem interesse em começar a aprender a linguagem dos sinais, ou apenas deseja tirar uma dúvida de como sinalizar uma palavra, a dica é o site acessobrasil.org.br/libras.
A página foi criada pela Acessibilidade Brasil (http://www.acessobrasil.org.br/), uma ONG formada por professores de educação especial, jornalistas, desenhistas industriais e analistas de sistemas, além de profissionais de outras áreas, todos empenhados em criar projetos voltados para a inclusão social e econômica de pessoas com deficiência, idosos e pessoas com baixa escolaridade. A ONG surgiu em 2002 e tem sede no Rio de Janeiro.
A Acesso Brasil, como também é conhecida, já desenvolveu cinco softwares para ajudar a vida das pessoas com deficiência. São eles: Monet (cria desenhos que possam ser impressos em Braille), Dirce (toca áudio livros), Correio Braille (permite que qualquer pessoa possa enviar uma carta em Braille para qualquer cego em território brasileiro), Da Silva (primeiro avaliador de acessibilidade online do País), e o Dicionário de Libras, uma parceria com INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos, em versões online e em CD-ROM.
No dicionário de Libras, a busca pode ser feita pela palavra, por assunto ou pelo sinal que representa a primeira letra da palavra. No resultado podemos ver um vídeo com uma intérprete demonstrando o sinal, um desenho da posição que a mão deve estar, além da acepção, origem e classe gramatical da palavra.
Alfabeto de Libras
Uma opção para os interessado em aprender um pouco sobre a linguagem básica de sinais são os vídeos publicados na internet, demonstrando o passo a passo para o aprendizado do alfabeto em Libras. A partir desse contato básico com os sinais, muitos vão seguir o caminho percorrido por Guilherme, outros simplesmente serão movidos pela curiosidade, mas todos estão movidos por um mesmo motivo: interpretar os gestos.
O contato direto com
a comunidade surda
é fundamental para a aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais
Guilherme Júlio, intérprete do Instituto Cearense de Educação de Surdos (Ices)






