Do instinto à técnica:
o ator Magno Carvalho
Aos 25, o ator Magno Carvalho já carrega aprendizados de grandes experiências, tanto no meio teatral quanto audiovisual. Para ele, que é apaixonado pelo que faz, não é necessário sair do Ceará para conseguir visibilidade na profissão, basta evoluir seus instintos e ter cada vez mais autonomia através da técnica.


Por Erika Neves e Júlia Norões
Desde que começou a fazer parte do mundo do teatro, aos 14 anos, Magno Carvalho se viu deslumbrado com o poder da atuação. Esse poder, que mudou completamente sua forma de pensar, o transformou no ator que é hoje, aos 25, carregando aprendizados de várias experiências, tanto no campo da atuação teatral quanto audiovisual.
Seu primeiro espetáculo aconteceu em Pacajus, cidade onde cresceu e morou até os 17. Na época, foi convidado a fazer parte do elenco de uma apresentação de bairro, que contava a história de São Francisco. Sua estreia já foi como protagonista.
Após concluir o ensino médio, mudou-se para a capital com o intuito de cursar Artes Cênicas. “Eu quero trilhar o caminho que sorri”, conta. Antes de ingressar na faculdade, Magno participou do curso Princípios Básicos de Teatro, ministrado por Joca Andrade. A experiência, segundo ele, o ajudou a "conceituar seus instintos".
Vida em cena
“Nada que é imposto dá certo”, diz Magno em relação à sua escolha profissional. “Desde cedo, busco andar com minhas próprias pernas. Se não tivesse buscado sozinho, não estaria onde estou”. Durante o período da faculdade, as oportunidades chegavam espontaneamente ao ator. Participou por três anos do espetáculo Paixão de Cristo e, em sua primeira apresentação, atuou como um dos discípulos. Percebeu, a partir dessas apresentações, que é muito difícil o “fazer teatro”: a produção é um trabalho a longo prazo e os resultados não são imediatos.
Magno também trabalha em projetos autônomos para fugir da política dos editais e não ficar esperando o apoio do Governo, buscando outras formas de patrocínio. Um desses projetos é “Pacajus: de Aldeia a Cidade”, um espetáculo teatral que prioriza apresentações em escolas de ensino fundamental e busca combater a violência, contado a história da cidade. De acordo com o ator, a maioria da população de Pacajus não conhece a história dela, não tem costumes e não tem raízes. “O que estamos vivendo no Ceará é uma luta pela valorização da cultura, seja regional ou estadual, estamos sem perspectiva”, desabafa.
Na época em que Magno estudava, a faculdade de Artes Cênicas do IFCE (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará) era um curso técnico voltado para a formação de atores e não como o de hoje, que tem um vínculo com a pedagogia, com a formação de educadores. No IFCE conheceu muitas pessoas e muitos mestres que o embasaram na técnica do teatro, como Sidney Souto, Danilo Pinho e Álder Teixeira.
Fez parte da Cia Cearense de Molecagem, com Christiane Góis e Carri Costa, onde aprendeu a técnica do teatro de bonecos e a produzir teatro infantil. “O contato do ator com a criança é bacana porque ela é muito verdadeira na recepção”. Também participou do Grupo Expressões Humanas, em que, através do espetáculo “Os Cactos”, percebeu o poder do teatro e da cultura de intervir na sociedade e transformá-la.
Sob a lente das câmeras
Em 2008, iniciou sua carreira no cinema. Sua primeira oportunidade surgiu na participação do longa-metragem “Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírito” e nessa experiência também já estreou no papel principal, atuando como Bezerra de Menezes em sua fase jovem. Destaca a diferença entre o cinema e o teatro: “A relação com a câmera é minuciosa”, a partir disso, ele pôde ampliar sua percepção de personagem diante do público e diante da câmera. Gostou do aprendizado, porque acredita que serviu para sua formação.
“Acredito que o ator diante da câmera precisa ser ainda mais espontâneo do que no palco, porque é outra interpretação, outra linguagem. Essa experiência também ensinou que o personagem (de um longa-metragem) não é o centro das atenções, existem muitos outros elementos que constituem uma produção, o ator apenas dá a alma”, explica.
Participou, em 2012, do filme “A Sedição de Juazeiro”, em que também foi protagonista. Para participar da produção, ele precisou correr atrás, dessa vez, a oportunidade não apareceu de repente. Em “A Sedição de Juazeiro”, Magno contracenou com o mestre da atuação no Ceará, Ary Sherlock, e afirma que foi uma experiência muito boa, como uma “universidade da vida”. Seu terceiro longa, “Antes do sol”, ainda sem previsão de lançamento, foi ainda mais interessante, pois “se debruçou sem amarras e sem preconceitos”.
Todos os seus caminhos foram feitos com base nos mestres que conheceu e que o proporcionaram grandes saberes. Sobre o mito de que os atores, para viverem de teatro, precisam ir para o Sudeste, Magno discorda: “o eixo não é o Sudeste, o eixo é o Brasil inteiro. Estando aqui, consigo estar também em outros locais. Eu consigo fazer o que eu quero aqui” e complementa “só o talento não é suficiente para um ator, ele só perdura com a consciência do que os seus instintos são capazes de fazer. A técnica é fundamental! Não só pela técnica, mas também por se descobrir através dela e ter autonomia.”
Uma experiência importante para Magno foi a aula de improviso, em que precisou se soltar para saber do que é capaz, se desprender, ousar e não ter medo, e estar atento ao dar e ao receber. Veja mais sobre a história no vídeo a seguir.

Desde cedo busco
andar com minhas próprias pernas, se não tivesse buscado sozinho não estaria onde estou



